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"Cada ESCOLA é uma escola. Cada PROFESSOR é um professor. Cada TURMA é uma turma. Cada ALUNO é um aluno.
Que bom que assim seja! Vamos por isso buscar o encontro dos nossos pontos comuns e CRESCER
com a troca do diferente de cada um de nós".

William Shakespere

sábado, 8 de janeiro de 2011

O futuro da escola

Por Thiago Baptistella Cabral - Biólogo e educador

O título deste texto remete ao tema de um encontro memorável entre dois grandes educadores que aconteceu no final de 1996. Ambos concordaram que a escola não se encontra à altura do seu tempo. Um deles, Seymour Papert, um dos maiores pensadores a respeito da relação entre as novas tecnologias e a aprendizagem, constatou que a escola acabará por desaparecer, ao menos, da forma como a conhecemos. O outro concorda que a escola atual não faz sentido, no entanto afirma que ela não deve desaparecer, mas sim ser reconstruída. Seu nome, Paulo Freire.

A escola tem, ou deveria ter como sentido último, a promoção da aprendizagem dos alunos. Quando deixa de fazer sentido, tem-se então que a escola não está promovendo essa aprendizagem como deveria. Ora, mas se sempre existiram pessoas com vontade de mudar, jovens sonhadores com uma educação de qualidade para todos, então onde estão todos eles? Em que ponto a maioria dos jovens sonhadores se tornam mais uma engrenagem a serviço da manutenção do status quo?

Existe uma literatura na área das políticas públicas que estuda o comportamento dos chamados "burocratas do nível da rua": professores, assistentes sociais, advogados de defesa pública, médicos e policiais, ou seja, os funcionários públicos que estão em contato direto com a população atendida. Em uma adaptação para o contexto da educação dos conceitos do Michael Lipsky, o pioneiro no estudo do tema, recai sobre o professor uma imensa carga de trabalho, os recursos são escassos e inadequados e há uma grande demanda de crianças a serem atendidas. Aliados a estes pontos, existe uma incerteza dos métodos adequados para a realização das tarefas e uma imprevisibilidade e comportamento agressivo dos alunos e pais. Esta circunstância de pressão entre suas limitações pessoais e profissionais acaba por levar os educadores a dar mais ênfase aos dispositivos que enfatizam o controle da situação, criando rotinas, reforçando e até manipulando as regras de forma a tornar as suas tarefas bem como o adverso ambiente de trabalho mais fácil de administrar.

O sistema burocrático da educação formal atua, de modo geral, para resolver os seus próprios problemas, e a escola deixa de cumprir a sua principal função, que se relaciona com o aprendizado dos alunos. Todavia, da mesma maneira que o contingente de pressões que atinge o educador pode levar - e geralmente é o que acontece - até o mais sonhador e idealista a cometer ações e omissões que afetam de modo negativo o aprendizado do aluno, também gera, dada à sua complexidade, algumas experiências exitosas que fariam tanto Freire quanto Papert sorrirem e se nutrirem de esperanças. As pessoas que fazem parte destas instituições escolares recebem dia a dia as punições pelo pecado de serem diferentes, sofrendo a contradição de funcionar dentro de um sistema que (ainda) cria e alimenta outro tipo de escola.

No Brasil inteiro, existem grupos de pessoas que transformaram instituições e habilmente plantaram sementes em pequenas aberturas existentes no chão de concreto da burocracia. No Rio Grande do Norte não é diferente. Uma floresta não aparece de um dia - ou de um governo - para o outro, mas se não dermos um suporte sistemático às pequenas, mas corajosas plantas que surgiram no chão de algumas escolas, a floresta continuará a ser um sonho distante. Caso se deseje que cada uma tenha condições de crescer em todo o seu esplendor, é necessário ampliar essas aberturas no concreto, possibilitando à sua equipe escolar - que é quem conhece suas necessidades - que receba mais autonomia para a gestão de pessoas e recursos. Algumas delas, se puderem se desenvolver, serão os arautos de um tempo em que teremos uma educação pública de qualidade para todos. O que se constata aqui é um sistema falido, no qual as possíveis soluções existem dentro e apesar dele. É preciso que não se repitam os mesmos erros e omissões. É preciso garantir que estas plantas não morram.

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